25 de nov. de 2009

CONSAGRAÇÃO ANTI- BÍBLICA


Vivemos tempos em que o ministério está em crise. São pastores que caem em adultério, pastores divorciados indo para o terceiro casamento, pastores apanhados usando dinheiro das igrejas, fazendo negócio das coisas de Deus, para não falar em pastores deprimidos, desajustados, de mal com a vida e tudo mais. Por que essa fase? Por que essa perda de credibilidade e autenticidade no ministério? É provável que a resposta seja complexa e multifacetada, mas estou convicto que parte significativa dela esta ligada ao fato de vermos tantas consagrações anti-biblicas.

Consagração anti-biblicas é aquela e que alguém é dedicado ao ministério da palavra contrariamente às instruções da Bíblia. Devemos refletir sobre o atual estado de coisas tendo a Palavra como base e a história da igreja como explicação das tendências.

Ministério no Antigo Testamento

Na era pré-igreja a instituição sacerdotal era a base do ministério. Lemos em (Números 4:3, 23, 30, 39, 47) a respeito da idade e das condições daqueles que podiam aceder ao ministério levítico e sacerdotal e verificamos que isso só se dava aos 30 anos. Até essa idade o futuro ministro experimentava a vida comum do povo. Aprendia um oficio, casava e começava uma família, habitava normalmente entre seus pares a quem ministraria. Com a idade mais madura de 30 anos era então separado para o ministério, já com uma experiência de vida que lhe servia de sustento e orientação.

Quando olhamos para os profetas do AT também vemos um padrão de homens maduros e experimentados na vida que eram separados pelo Senhor para a ministração da palavra. A própria cultura oriental não aceitaria que jovens sem família assumissem posições de liderança ou dessem lições de moral ao povo. Idade era sinal de respeito e isso marcou sempre o ministério. Os dois grandes nomes do AT, sinônimos da lei e dos profetas, foram Moisés e Elias. Eram ambos homens maduros e experimentados quando entraram no ministério. No AT o homem de Deus tinha experiência de vida que lhe servia de base para ocupar o ministério.

Ministério no Novo Testamento

Jesus (nosso exemplo supremo em tudo) só iniciou seu ministério aos 30 anos. Porque seria isso? Ele era Deus em forma humana. Era o filho de Deus. Porque esperar tanto? Porque era a orientação bíblica, era o principio de entendimento para seu povo. Era necessário que tivesse vivido e aprendido com seu povo. Não veio ao mundo adulto (e isso para Deus seria fácil), mas como um neném e cresceu para se identificar com seu povo. Foi carpinteiro, cuidou de sua família, conheceu a realidade de seu povo e seu tempo e então, aos 30 assumiu seu trabalho.

Na sequência vemos Jesus escolhendo seus discípulos. Ele não selecionou garotos ou jovenzinhos, mas homens maduros e com família que sabiam da vida e tinham testemunho na comunidade. Isso era fundamental porque ia deixar a responsabilidade da igreja sobre os ombros desses homens e não podia correr o risco de serem rejeitados pela sociedade por serem jovens inexperientes.

Temos então a base doutrinária para a ministração nos textos de Paulo (I Timóteo 3:1 a 7; Tito 1: 5 a 9). Ele nos dá a versão neotestamentária do que vemos em Números no AT. Não estabelece idade para o ministro, mas a própria escolha da expressão “ancião” já deve nos chamar a atenção. Nas designações de Paulo não há preocupação com formação acadêmica (e havia muita nos tempos do Apostolo). Há preocupação com vida de testemunho familiar e secular. Pela orientação de Paulo, os pastores teriam que ser casados (não solteiros) e ter filhos já em idade que desse para se ver que o novo pastor sabia criá-los em obediência. Pensando nisso fica evidente que para seguir essa orientação bíblica os pastores seriam obrigatoriamente homens com mais de 30 anos e provavelmente mais de 40. Seriam profissionais, com família e bom testemunho, experimentados nas realidades daqueles a quem iam ministrar.

Realidade Atual

Pensemos agora na nossa realidade. O quadro seguinte é muito comum. Temos um adolescente na igreja que se envolve com os trabalhos e mostra interesse no ministério. Um dia, num culto, ele aceita um apelo para ser pastor e passa a ser tratado de modo diferente. Afinal ser pastor é mais importante que ser médico, advogado, engenheiro, professor, pedreiro, mecânico ou eletricista, certo? Será mesmo? Todos podem exercer o pastorado? O pastor não pode ser um profissional de outra área como acontecia no NT?

Mas voltemos ao nosso adolescente. Evidentemente que não irá para a faculdade. Nesse “antro de perdição” poderia deixar a vocação. Logo, ele vai cedo para o seminário. Com 18 já está na escola de profetas. Com 22 está formado. Não conheceu a vida universitária e o que significa defender sua fé num meio ateísta. Não conheceu a vida profissional, nunca teve um dia de trabalho das 8 as 18, não conheceu a pressão de patrões blasfemos e colegas descrentes. Não se casou ou então é recém casado, não tem filhos ou então os têm ainda nenéns. Mas, baseados em seu curso, vão consagrá-lo ao ministério da palavra e ele será pastor.

Pergunta: Por que os evangélicos costumam criticar o celibato dos padres católicos? Por que defendem a idéia que padres solteiros não tem como aconselhar pessoas casadas e com filhos por falta de experiência. Mas o nosso jovem pastor não tem experiência universitária, nem profissional, nem de casamento, nem de criação de filhos. Isso em teoria e pela linha de argumentação usada com o padre, o desabilita a tratar da grande maioria de suas ovelhas. Muitos desses jovens pastores, bem intencionados e cheios do saber do seminário, irão pregar sermões repletos de referências aos grandes nomes da teologia mas que nada dizem à sua congregação. Seus sermões serão irrelevantes e seu aconselhamento ingênuo. A culpa será dele ou de quem o consagrou contrariamente aos princípios bíblicos?

Esse estado de coisas é fruto da profissionalização do ministério e vem de longa data. Não quero aqui retirar o valor de tantos servos de Deus que poderão se ver na descrição anterior. Eles foram produto do sistema que criamos. Aprenderam a duras penas sobre as realidades de suas ovelhas e pela misericórdia de Deus exerceram ministérios abençoados. Também não estamos fazendo referência a nenhum pastor jovem em particular.  Eu mesmo fui consagrado ao ministério antes de casar, o que seria contrário ao ensinamento Paulino.  Pela graça de Deus, só assumi meu primeiro ministério titular nove anos depois, na fundação de uma igreja em que todos os membros tinham sido ganhos e discipulados por mim.

O que estamos defendendo aqui é um regresso aos padrões bíblicos para a consagração ao ministério. Se desejarmos essa volta não deixaremos de ter seminários, mas aprenderemos que seminários não formam pastores. Procuraremos ser mais exigentes com nossos vocacionados e enviaremos menos gente despreparada para o seminário. Teremos mais pastores profissionais no ministério. Alguns dirão que pastores com outras profissões não darão conta do ministério. A resposta está na visão de pastorado. As igrejas do NT tinham ministérios coletivos e bem sucedidos. Se entendermos que pastores não podem verdadeiramente pastorear mais que umas 200 ovelhas no máximo, talvez entendamos que ministérios coletivos é a resposta bíblica.

Se seguirmos os padrões bíblicos talvez tenhamos menos “pastores celebridades” e mais gente recebendo o que precisa. Teremos pastores com sustento garantido que não terão que se submeter aos “donos” das igrejas. É triste vermos servos de Deus pressionados por aqueles que dão os maiores dízimos. Todos sabemos que isso acontece e nem todos têm estomago para enfrentar essa tentação e vencer.

Ao seguirmos os padrões bíblicos teremos mais pastores com formação superior. Quantos hoje já entenderam isso e tentam equilibrar a faculdade com o ministério e a família? Não era mais lógico fazer o curso quando se é mais jovem e ainda não se tem a responsabilidade de uma família e um ministério? Não daria isso maior base de vida e ministração aos pastores?

Sobretudo pleiteamos um padrão bíblico. O seminário pode perfeitamente ser precedido por um curso superior. O seminário precisa ser seguido de um tempo de experiência ministerial antes da consagração. Nossos vocacionados podem e devem trabalhar para aprender como vivem os crentes a quem irão ministrar no domingo. Devemos ter cuidado na precipitação e consagrar menos jovenzinhos a um trabalho tão sério como o de pastorear a igreja de Jesus.

Alguns citarão o texto de Paulo a Timóteo: “ninguém despreze a tua mocidade” (I Tim. 4:12). Se avaliarmos a mocidade de Timóteo, veremos que ele teve um seminário prático com Paulo. Sua preparação não foi acadêmica. Por outro lado, lembramos que a segunda viagem missionária de Paulo, quando Timóteo entra na história, ocorreu por volta do ano 50 e a primeira carta de Paulo dirigida a Timóteo foi escrita por volta de 64. Chegaremos à conclusão que ele deveria andar nos seus 30 e poucos anos. É dessa mocidade que Paulo falava!

Deixar padrões enraizados é difícil. Reconhecer erros e mudar é muito trabalhoso! Mas seguir a Palavra é sempre vantajoso e diante do panorama atual não creio que tenhamos alternativas. Precisamos de mais Consagrações Bíblicas em nosso meio!


3 comentários:

Ody disse...

muito bom, perfeito.

Unknown disse...

Enviei o texto para alguns amigos e eles gostaram muito. É sem dúvida um assunto muito oportuno para o que temos vivenciado em nossas igrejas.O texto é ótimo!

Joed Venturini disse...

Caro Ulisses e Lucimar, no blog temos alguma limitação de espaço para o desenvolvimento da tese. A mensagem central é que temos nos desviado do padrão bíblico de consagração. As igrejas deveriam estar mais atentas ao pedir a consegração e na escolha de seus novos pastores. Escolher um novo ministro baseado em uma pregação é manifestamente pouco.