A IGREJA E O MISSIONÁRIO
Recentemente li um comentário do prezado Pastor Edvar Gimenes no qual ele assemelhava o nosso amor por missões a um namoro de adolescente, ou seja, sentimento forte, mas superficial e sem reflexão. Inicialmente discordei, mas lendo suas colocações até o fim tive que concordar. Missões desperta emoções fortes entre os batistas e há até quem chegue a afirmar que é o único ponto que mantêm a denominação unida. Mas realmente há pouca reflexão nesse nosso amor.
Creio que o ponto em que melhor se nota isso é o relacionamento entre igreja e missionário. Essa relação se pauta hoje, na maioria dos casos por interesse espasmódico calcado em certos momentos chaves. Identifico três momentos principais da manifestação desse amor. Há o momento da chamada missionária. O jovem ou casal que se apresenta para missões é recebido de braços abertos, seu status espiritual sobe instantaneamente, é cercado de interesse e promessas. Tudo parece lhe sorri naquele momento no altar. É pura emoção e paixão.
O segundo momento é o do comissionamento. Quando a igreja finalmente envia o obreiro há lágrimas no ar, elogios rasgados, orações comovidas e a expectativa de um amor eterno que nem sempre se verifica.
O terceiro momento é o da visita missionária para relatório e prestação de contas. Todos gostam de ouvir o missionário e ver suas fotos As roupas exóticas, os relatos de culturas estranhas, as conversões maravilhosas e os milagres pa provisão e proteção Divina marcam a congregação e o missionário sente o amor da igreja pulsar através de olhos interessados e dos abraços e promessas no fim do culto.
A falta de reflexão se manifesta nos intervalos desses momentos. Entre a decisão de ir para o campo e o comissionamento há um período de preparação que a igreja não acompanha e muitas vezes acha desnecessário ou demasiado longo. Entre o comissionamento e a visita do obreiro existe o tempo de labuta no campo que a igreja desconhece, pois o ditado já diz: longe da vista, longe do coração.
No período de férias ou de regresso ao seu país enquanto o missionário dá relatório de seu trabalho há também toda uma necessidade da família no tratamento da saúde, conseguir algum repouso ou mesmo se reinstalar em sua terra após anos no estrangeiro. Mas a igreja só quer o missionário no púlpito, as outras questões nem passam pelas mentes da grande maioria das igrejas ou mesmo de seus pastores.
Partimos do princípio que o primeiro intervalo, o de preparação para o campo, é da responsabilidade de nossas instituições de ensino e o segundo e terceiro intervalos são por conta da junta missionária. Mas, biblicamente, quem reconhece o chamado, autentica o ministério, envia o obreiro, sustenta a obra e recebe os relatórios é a igreja de Jesus. Agências missionárias foram criadas em grande medida por causa da falha das igrejas em cumprir a grande comissão. Podem e devem ser benção no envio e apoio de missionários, mas nunca poderão substituir a igreja que como instituição Divina tem esse dever por mandato celestial.
Se quisermos que nosso amor por missões deixe de ser uma paixão meio pueril marcada apenas por momentos ocasionais e campanhas anuais, precisamos refletir sobre a relação igreja-missionário e começar a trabalhar nos espaços vazios que temos criado.
A Igreja pode e deve providenciar e acompanhar o treinamento de seus vocacionados. Esse acompanhamento será crucial para a melhor formação do obreiro e tornará esse tempo de espera um beneficio para o missionário e sua congregação.
A Igreja pode e deve seguir o trabalho no campo de modo a não apenas enviar uma oferta terceirizando sua responsabilidade missionária, mas aprendendo a interceder de verdade, suprir necessidades especificas dos missionários no campo, estar presente em momentos de alegria e de crise, fazer viagens de apoio á obra e desse modo sentir-se realmente participante da missão que é sua no sentido maior.
A Igreja pode e deve apoiar o missionário de férias ou o que regressa a seu país ou cidade depois de um tempo no campo estrangeiro ou nacional. Restaurar e reanimar seu missionário é responsabilidade da igreja e se ele cumprir seu papel nos dois passos anteriores, este poderá acontecer com muito mais naturalidade.
Nada disso tornará desnecessária a agência missionária, antes ajudará o missionário, a igreja e a agência na verdadeira relação que deve existir para o cumprimento da missão. Está na hora de vencermos a fase adolescente de nosso amor por missões. Não deixemos mais que apenas a emoção reine num domínio tão sério para a igreja e a missão. Vamos assumir nossas responsabilidades, crescer em reflexão sobre a verdade da missão, e que nosso amor por ela, que nasce e cresce do próprio ser e caráter de Deus, seja um amor maduro e frutífero.
Um comentário:
Olá pastor Joed,
Primeiramente, parabéns pelo texto!Graças ao Pai por sua vida, disposta a ajudar e abençoar vocacionados e missionarios através de palavras de sabedoria. Que Deus continue a abençoar e inspirar-lhe.
Saiba que o admiro como pastor e servo de Deus. Conheci seu trabalho através do livro Antes do Ide, e desd então tenho profunda admiração por sua vida!
Que Deus continue a abençoar sua família e ministério!
Grande pastor e escritor!
Postar um comentário